TEXTO 1
A língua, em sua infinitude, em sua heterogeneidade e em
seu constante processo de mudança, é, no fundo,
incontornável. Isto é, não dispomos de meios para cercá-la,
para riscar um traço a seu redor, para desenhar uma linha
que a contenha.
Claro, a nossa cultura linguística tradicional tem enormes
dificuldades para conviver com essas características da
língua. Diante do infinito, do heterogêneo e do sempre
mutante, muitas pessoas clamam por regras categóricas.
Surgem, então, aqueles que se arrogam o direito de ditar
tais regras. Como não há um papa ou um supremo tribunal
federal linguístico, alguns se acham no direito de assumir o
papel de autoridade: inventam regras e proibições,
condenam usos normais e ficam execrando e humilhando
os falantes. E, pior, nunca admitem contestação.
Infelizmente, esse autoritarismo gramatical, essas atitudes
autocráticas têm grande prestígio na nossa sociedade, em
especial entre alguns dos nossos intelectuais. No entanto,
um dos efeitos desse autoritarismo linguístico tem sido
justamente bloquear o amplo acesso social a um bom
domínio da língua. Inibe e constrange. De um lado, porque
instaura uma insegurança nos falantes. De outro, porque se
aproxima dos fatos da língua sempre de modo fragmentário
(arrolam picuinhas sobre picuinhas – alguns chegam até a
ultrapassar a casa do milhar), sem nunca oferecer uma
perspectiva de conjunto da nossa realidade linguística, em
particular da norma culta/comum/standard.
Se não dispomos de uma autoridade suprema em matéria
de língua, como podemos dirimir dúvidas ou arbitrar
polêmicas? Não temos alternativa, a não ser observar
criteriosa e sistematicamente os usos. No caso da norma
culta/comum/standard, os bons dicionários e as boas
gramáticas devem registrar e consolidar os usos
observados. Não cabe a eles criar regras, mas –
observando os usos – cabe a eles descrever e consolidar
os fatos dessa norma.
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira. Desatando alguns
nós. São Paulo: Parábola, 2008, p.104-105. Adaptado.
A análise de aspectos linguísticos presentes no Texto 1 nos leva a concluir que:
1) Logo no primeiro parágrafo, identificam-se palavras formadas pelo prefixo in-, com sentido
de ‘inclusão’: ‘infinitude’ e ‘incontornável’.
2) No trecho: “arrolam picuinhas sobre picuinhas”, a preposição contribui para expressar a idéia de quantidade: “arrolam picuinhas e mais picuinhas”.
3) No trecho: “Surgem, então, aqueles que se arrogam o direito de ditar tais regras.”, a próclise
é opcional; a opção pela ênclise seria igualmente aceita pela norma padrão da língua.
4) No trecho: “Não cabe a eles criar regras, mas – observando os usos – cabe a eles descrever e
consolidar os fatos dessa norma.”, o uso dos travessões tem o efeito de enfatizar o trecho
‘observando os usos’, garantindo-lhe saliência informativa.
Estão corretas:
a) 1 e 3, apenas.
b) 1 e 4, apenas.
c) 2 e 4, apenas.
d) 2 e 3, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.
SOLUÇÃO:A proposição 1 está incorreta, pois as palavras ‘infinitude’ e ‘incontornável’’ não são formadas por
prefixo que tem valor de ‘inclusão’;
A proposição 2 está correta, porque, realmente, no trecho dado, a preposição contribui para expressar a idéia de quantidade;
A proposição 3 está incorreta, pois, no trecho dado, apesar de a próclise ser exigida pelas regras de colocação pronominal, a ênclise não seria aceita pela norma padrão da língua;
A proposição 4 está correta, pois, no trecho dado, de fato, os travessões têm o efeito de enfatizar o trecho ‘observando os usos’, garantindo-lhe saliência informativa.
Resposta Letra
C.